"... O teatro mágico é o teatro do nosso interior. A história que contamos todos os dias e ainda não nos demos conta; as escolhas que fazemos em busca dos melhores atos, dos melhores sabores, das melhores melodias e dos melhores personagens que nos compõem, as peças que encenamos e aquelas que nos encerram... nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada de viver a vida, de sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias, o teatro nosso de cada dia..."

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Crítica à peça Anayde

Foto 1: Priscila Priska (Anayde) e Netto Vieira (João Dantas)
Foto 2: Lhéo Fernandes (Alves) e Monia Nesello (Lia)


Sem exageros e mistificações, espetáculo conta de forma correta eventos de 1930.
Peça não toma partido de João Dantas ou João Pessoa, nem explora demais o amor do casal central



Na história brasileira, sem dúvida alguma, o epis[odio em que a Paraíba esteve no epicentro dos acontecimentos foi a chamada Revolução de 30. Grupos políticos se engalfinharam lutando por interesses, deixando um rastilho de pólvora e sangue. É de longe o tema que mais interesse tem dado a historiadores, pesquisadores e público em geral. Nos últimos anos, vários títulos têm sido lançados no mercado editorial local abordando o assunto.


Em meio a este rastilho que varreu a província "parahybana", do começo do século passado, uma mulher à frente de seu tempo se impõe como uma das protagonistas de toda esta trama: Anayde Beiriz. Namorada de João Dantas, advogado ligado ao grupo perrepista, que matou João Pessoa sob cuja ação teve sua intimidade devastada ao ver sua casa invadida. Todos os episódios envolvendo esta envolvente história são trazidos ao palco na peça Anayde, texto de Paulo Vieira, direção de Roberto Cartaxo e montagem do grupo Movimento de Cultura Artística (MOCA).


São três núcleos narrativos da peça. O primeiro, com o qual a peça é iniciada, está focado no ator Alves, bêbado e espécie de clown contestador da humanidade, em destacada atuação de Lhéo Fernandes. Ele vem do rio de Janeiro com uma companhia de teatro. A sonhadora e gananciosa Lia (Monia Nesello), amiga de Anayde (Priscila Priska), deseja ser contratada pela companhia. É na comemoração de sua futura e suposta contratação que se cria o pano de fundo para que Anayde e João Dantas (Netto Vieira) se conheçam e se apaixonem. Aí temos o segundo núcleo narrativo e mais importante, o do casal apaixonado. O terceiro núcleo narrativo se passa em Cabedelo com os camaradas Rafael (Marcos Junior) e João José (Thiago Suvack) e serve para dar uma contextualização histórica e política, contrabalanceando e, também, se imbricando com o romance de João e Anayde.


Não há exageros, mistificações a respeito de detalhes específicos sobre alguns episódios. A todo instante, pela boca de mais de um personagem somos advertidos de que João Dantas e João Pessoa, com seus respectivos grupos políticos, não são melhores, nem piores, mas são iguais. Esse é um dos grandes ganhos da peça. Não há também nenhuma exploração além do que a necessária do amor do casal. Há uma bonita cena de amor, embalada com muita sensualidade, com direito à declamação dos versos íntimos de ambos cuja publicidade e exposição foi um dos motivos que levaram o advogado perrepista a dar cabo da vida do presidente da província em noma da honra.


Anayde, a mulher militante em defesa das causas femininas, a poetisa de saraus na província, ganhou um tom correto na interpretação de Priscila Priska. O mesmo não se deu com João Dantas, vivido pelo jovem Netto Vieira. Creio que a madureza, o desencanto e o espírito taciturno de João Dantas renderiam melhor em um ator mais velho. Meu argumento pode parecer simplista, mas faltou verdade à atuação, não por deficiência do ator, mas, por ele não ter o biotipo necessário para esta empreitada.
Neste clima de amor vivido em meio às turbulências, um personagem que creceu muito foi o ator bêbado Alves, que quebrava o tom sisudo da situação encenada, sempre fazendo piada de tudo, olhando o mundo sob a perspectiva da embriaguez.



Texto do crítico e escritor Astier Basílio ao Jornal da Paraíba






sexta-feira, 18 de agosto de 2006

ANAYDE continua em cartaz



O espetáculo "Anayde", uma montagem do grupo Movimento de Cultura Artística (Moca), com texto de Dr. Paulo Vieira e direção de Roberto Cartaxo, está nas suas últimas semanas de apresentação. Confira


Dias: 18, 19, 20 ,25, 26 e 27 de Agosto e 1, 2 e 3 de setembro.

Horário: Sextas e sábados (às 21hs) e domingo (às 20h)

Local: Teatro Santa Rosa.

Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (estudante).

O drama "Anayde Beiriz" fundamenta-se no amor sem limites, tendo como foco central os conflitos que viriam a deflagrar a Revolução de 1930. No espetáculo, Paulo Vieira conta a história da professora e poetisa paraibana Anayde Beiriz, que conhece o advogado João Dantas em 1927. A paixão entre os dois provoca um escândalo na então provinciana capital paraibana, devido ao fato de serem solteiros e manterem um relacionamento mais íntimo que o "permitido" pela sociedade da época.
O romance, segundo a versão de determinadas correntes historiográficas, causou contratempos e foi considerado o pontapé inicial da Revolução de 1930. Naquele ano, João Dantas tem o seu escritório invadido pela polícia do então presidente do Estado da Paraíba, João Pessoa, seu inimigo político do advogado. A correspondência íntima dos amantes é levada ao conhecimento público. Devido ao episódio, o advogado viaja até Recife, e assassina o presidente.
Preso na Casa de Detenção, na capital pernambucana, João Dantas recebeu visitas de Anayde Beiriz, que passa a morar em Recife. Mas João Dantas é encontrado morto no local. As circunstâncias evidenciam uma execução sumária, apesar da versão oficial apontar suicídio. Abalada, Anayde Beiriz termina se suicidando, supostamente por envenenamento. O corpo é sepultado como indigente, no cemitério de Santo Amaro, em Recife.

No elenco do espetáculo estão Priscila Priska (Anayde Beiriz), Netto Vieira (João Dantas), Monia Nesello (Lia), Lhéo Fernandes (Alves), Marina Montenegro (Fanático religioso), Marcos Júnior (Rafael), Silvana Sena (Camareira), Thiago Suvack (João José) e Luciano Pinto (office-boy).


Texto tirado do site http://www.noembalo.com.br/